segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Sem controle

Buscamos respostas demais. O tempo todo.

Verdades inteiras

Certezas eternas

Acreditamos na ideia de que sabemos.

Mas a certeza só habita em dois lugares:

No imutável.

E no previsível.

E quase como uma piada, talvez a única certeza da vida seja a impermanência e a imprevisibilidade.

Pois até quando fazemos planos, não fazemos.

E que entediante seria viver sabendo de cada detalhe da vida antes mesmo de acontecer

A graça tá no novo.

Na mudança.

Na surpresa.

Não sabemos em que casa viveremos.

Em qual trabalho estaremos.

Nem o quanto de saúde teremos.

Não sabemos quais pessoas vão esbarrar pelo nosso caminho.

Tem gente que esbarra

e vai embora.

Tem esbarrão que vira encontro.

Tem encontro que vira café.

Tem café que vira vinho.

Tem encontro que se repete. E repete. E repete. E repete. Repete. Repete. E repete e repete de novo.

E depois vai embora.

Tem esbarrão que volta.

Esbarra de novo.

E vai embora.

Há desencontros que se encontram.

E encontros que se desencontram.

Tem gente que já esteve.

Tem gente que está.

E gente que estará.

E aí, como saber?

Aliás…

Por que saber?

Não posso saber quais paisagens meus olhos ainda contemplarão

Nem quais músicas ainda irei escutar

Ou quais comidas degustarei

E por quais calçadas vou andar

Nem dentro de quantos abraços eu ainda posso morar

Também não sei por quais motivos irei sorrir

E por quais, irei chorar.

Não sei quem sou

Muito menos quem serei.

E talvez a única coisa que eu deva realmente saber:

é que a vida é um eterno não saber.

Fluência

Te vejo.

Sinto.

O calor que me atravessa

E a beleza que envolve meus olhos

Ando.

na sua direção

com os pés soterrados no chão

Entro.

devagarinho

e sem pressa

Experimento.

O frio que arrepia a minha pele

enquanto num abraço esquenta meu corpo

Respiro.

Seguro.

e entro na imensidão

preenchida de mim mesma.

Mergulho.

Fundo.

pra que eu perceba

tudo que me balança

Retorno à superfície.

observando em volta

com a confiança e o receio

de quem adentro um oceano

Capoto.

Me desviro.

Me afogo.

Sufoco.

Volto.

Solto.

pra que o fluxo conduza meu corpo

não pra onde eu quero ir

mas pra onde eu preciso estar

Inteira dentro.

me permito ser levada

consciente dos meus medos

encorajada a enfrentar-los

e com a certeza

de que mergulhar

é melhor

do que passear na orla.