terça-feira, 29 de outubro de 2013

Realidade

Se enganou quem um dia acreditou que existe - seja do tipo que for - algum relacionamento humano fácil. Humanos são complexos, são cheios de manias e marcas de nascença. Quando se juntam os defeitos de um com os defeitos de outro, aí então você descobre que é preciso aceitar certas coisas, entender outras e compreender que cada um é um e que dois nunca serão um, nem mesmo em gêmeos siameses. Quando o relacionamento não possui vínculo sanguíneo é ainda mais difícil superar as diferenças e viver bem, até porque temos a lamentável mania de guardar sempre o pior e não dar valor ao lado bom das coisas.
E o que dizer de uma relação amorosa? Onde seres de famílias opostas, resolvem arriscar suas fichas e depositar expectativas em alguém que lhe despertou o interesse por afinidades, simpatia, empatia, interesses e objetivos em comum, atração, ou seja lá o que for. Como lidar quando a convivência e o tempo lhe mostram a outra face da alma gêmea e desmascaram também a sua? Quando enfim, encaramos parte da vida real, do olho no olho, da conversa, dos problemas diários e não só da carruagem de abóbora dos contos de fadas?
Nesse momento você se depara com a realidade que lhe joga na cara - o que já havia lhe mostrado outras vezes - que é preciso antes de criticar, analisar suas atitudes; antes de reclamar, melhorar maus hábitos; antes de pensar errado, conversar; antes de julgar pelo seu ponto de vista, ouvir o do outro; antes de apontar os defeitos da outra pessoa, reconhecer os seus próprios, e mais ainda; aceitar que você os tem.
Precisa-se entender que ninguém é você e nunca agirão como você age, pensarão como você pensa, sentirão o que você sente e saberão como você está simplesmente por intuição. Cada um tem a sua forma de pedir desculpas, de dar carinho, de ficar chateado, de amar. Nenhuma é certa e nenhuma é errada. São formas, jeitos, maneiras, corações... Indivíduos.
Os desentendimentos acontecem, as diferenças se estampam, as crenças se desencontram, isso é normal. Humanos são complexos, são cheios de manias e marcas de nascença... Entretanto, se os motivos que os fazem ficar juntos forem muito maiores que os motivos que lhe afastam, não há porque temer por tão pouco.
Relacionamento bom é saber que mesmo por qualquer birrinha, vocês vão conversar, se abraçar forte e pedir desculpas. Mesmo por alguma divergência, vocês sabem que amanhã estarão bem e vão celebrar o amor em alguma esquina ou bar. Mesmo que não estejam no melhor dos dias, você sabe que poderá ligar, chorar e xingar que ainda assim ele estará lá lhe esperando de braços abertos para enfrentar a TPM ou a barra que for. Relacionamento feito de ganhos é aquele em que você percebe os erros do outro - sabe que este não é perfeito e nunca será príncipe, mas que você também nunca foi Barbie - e nem por isso deixa de se encantar com um sorriso espontâneo, um cabelo bagunçado, uma cara de criança levada, um beijo roubado, uma marquinha no ombro ou só um olhar perdido, porém apaixonado.
Relacionamento gostoso é quando você descobre que pode compartilhar tudo de si que não vão lhe julgar ou lhe podar; quando você percebe que sempre aprende mais e ensina um pouquinho também; quando você repara que juntos não se dividem, só se multiplicam; quando com o outro você tem a certeza de que está segura e que é amada; quando você reconhece que é preciso abrir mão de certas coisas - inclusive dentro de você - mas isso não importa porque vale muito a pena; quando você nota que seus dias são mais bonitos e que você sorri com pouco.
Relacionamento bom mesmo é tipo saltar de bungee jumping. Você pode passar por altos e baixos, mas vivendo sempre algo novo, que lhe desperta adrenalina e lhe deixa com as sensações à flor da pele, e o melhor: com a segurança e a certeza de que por mais baixo que vá, nunca cairá.