sábado, 15 de setembro de 2012

Excentricidade Móvel

É verdade que levou tempo, muito tempo até ficar do jeito que sonhara. Demandou dinheiro, empenho, trabalho e trabalhadores também.
A quase obra de arte virou assunto em toda a cidade.Ouvia-se a cada dia um novo comentário sobre a excentricidade de Paulo e a mulher. Por muito tempo guardou suas economias para o feito que até mesmo os arquitetos e engenheiros se colocavam em dúvida quanto à viabilidade.
Construíram os quartos, desta vez muito mais silenciosos, possuíam isolamento acústico para pôr fim aos barulhos da cidade noturna e movimentada que tanto os incomodava. Fez-se a cozinha com decorações em verde e muitas flores, como forma de levá-los a uma fuga dos cinzentos dias urbanos. Por último a sala, com espaços reservados aos programas familiares que o chefe da família tanto sonhara por tempo e disposição para dedicar-se. Um sofá e televisão dignos de um cinema de qualidade, uma mesa de jogos, pebolim e um ambiente propício aos jantares em harmonia. O sonho estava pronto.
Em meio à folhas de papel e contas matemáticas, percebeu que além de todo o desgaste físico e mental, muito tempo da sua vida havia sido desperdiçado frente a um para-brisa. Se gastava uma hora e meia para chegar ao trabalho e duas para voltar à casa no fim do dia, já eram três horas e meia nos dias úteis. Os finais de semana no litoral lhe somavam mais cinco horas a cada semana. Se assustou ao descobrir que perdera um ano e quase oito meses em filas, nos últimos dez, desde que se mudara para a capital. Mas, estava também feliz por saber que agora poderia deixar de perder muito da sua vida. Trocaria um ano no trânsito, por um ano em família.
- Consegui!- Gritou depois de um largo sorriso ao notar que a mudança se daria no dia seguinte. Agora seria o único homem que moraria no térreo do prédio em que trabalhava e teria o seu próprio motorista, que dirigiria o mesmo sobre rodas. Se deslocariam para onde fosse preciso, sem precisar abandonar qualquer atividade no lar ou no trabalho. Não deixariam, Paulo e sua família, de viver mais nenhum minuto, parando nos sinais da vida caótica dessa falta de mobilidade urbana.