terça-feira, 6 de novembro de 2012

Só eu sei

O problema é que depois de tanto me machucar com o mundo, tomei a - talvez burra - escolha de construir a minha própria armadura e junto dela engessar meu sorriso e minha expressão de contentamento perante as consequências dessa fortaleza que eu mesma crio.
Quando decretei minha mudança, mergulhei tão a fundo nela e tomei tal decisão com tamanha sobriedade que por muito pouco não me fiz acreditar. E por ser do tipo que levas as coisas adiante ante as frustrações e anseios e do tipo que não sabe viver mais ou menos; que vive de corpo inteiro até mesmo aquilo que rejeita...
Pois é... Por ser do tipo que muda constantemente e do tipo que gosta de conservar os seus inconsequentes vícios, que me fiz a mentira mais verdadeira que poderia ser. Aquela mentira deslavada e do semblante mais descarado que tenho gravado em mim. Hoje todos acreditam na máscara que visto. Hoje tenho o que por muito tempo acreditei cegamente querer. Hoje não quero.
Mas só eu. Só eu sei. Só eu sei o quanto gosto de ter a permissão pra me preocupar com alguém e fazer deste engrenagem de mim mesma e saber que minha peça também se preocupa comigo e sente a ausência da minha cumplicidade desmedida. Só eu sei o quanto gosto de carinho recíproco e de sorrir sem motivo, mas sabendo exatamente o porquê do meu sorriso. Só eu sei o quanto preciso deixar que me preencham para que nunca haja espaço que me faça deparar-me com meu completo vazio. Só eu sei o quanto sinto falta de ter essa minha parte notada e ser por ela tocada.
Enquanto isso, continuo agindo como sempre agi. Mantenho a armadura, o gesso e o disfarce. Continuo com esse jeito de quem é feliz de qualquer jeito. Meio sem jeito. Feliz mesmo sem o 'outro' jeito. Continuo esperando um colo do mesmo jeito. Esperando para ter como única resposta apenas um sorriso. Um sorriso daqueles. Daqueles sem motivo, mas que sabe-se bem o porquê se está sorrindo. Um sorriso que me faça viver o que hoje só eu sei o quanto quero ser.