sábado, 19 de novembro de 2022

Coisas que aprendi com você

Eu queria que você soubesse que tenho mergulhado cada vez mais fundo nos meus buracos e feridas familiares sobre falta de amor, ausência de carinho e necessidade de validação - e o quanto isso afeta e repercute nas minhas relações.

Queria que você soubesse que a dança passou à ocupar um lugar muito mais importante na minha vida. Que a relação com o corpo e o outro através da dança tem me tocado cada vez mais. E que hoje eu penso inclusive na possibilidade de trabalhar com dança.

Eu queria que você soubesse que tenho observado mais o outro, o espaço e os momentos. E que tenho confrontado diariamente as minhas ideias sobre amor e os meus ideais românticos.

Eu queria que você soubesse que ando na rua prestando atenção no alinhamento da minha coluna, no encaixe do meu quadril. E que minhas dores na lombar diminuíram.

Queria que você soubesse que às vezes ponho Gilberto Gil pra tocar. E fico prestando atenção nas letras.

Também queria que você soubesse que adorei conhecer Cabo Frio. Que voltei a dançar samba. E que tenho usado limão como desodorante. E minhas amigas riem disso.

Eu queria que você soubesse que hoje sou mais atenta à minha fala, ao meu excesso de fala. Principalmente se estou numa roda com pessoas pretas.

Queria que você soubesse que voltei a escrever. Que me reconectei com o diálogo do coração e o desabafo da caneta.

Eu queria que você soubesse que voltei a pensar em procurar minha mãe, fazer as pazes e reconstruir essa relação.

Queria que você soubesse que hoje dissemino por aí a origem do termo "samba de gafieira" e tantos outros diálogos acerca de dança, arte e os recortes raciais.

Que passei a ver mais importância no debate político e em massagens na bunda.

E que tenho me aprofundado mais e procurado formas de inserir no meu trabalho a discussão sobre cidadania, revisionismo histórico e se pensar o Brasil.

Queria que você soubesse que essa é uma pequena lista das coisas que aprendi com você. Das muitas coisas que aprendi com você. E que sou extremamente grata a cada uma delas.

Brené Brown diz no especial dela que "Amar é ser vulnerável. Amar é dar seu coração à alguém e dizer: sei que posso me magoar, mas eu quero fazer isso."

Então, por fim, queria que você soubesse que eu te amei. E muito.

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