quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Infelicidade normal

Estava com nenhuma vontade de ir ao cinema naquele sábado à tarde, mas parecia que tudo conspirava para que fôssemos: era o último dia em cartaz do filme que queria assistir, minha namorada havia sido "dispensada" do programa com a família e tínhamos o carro durante todo o dia. Para agradá-la, fui. Quase obrigado; mas fui.
Chegamos ao shopping, pedi para que comprasse os ingressos, a pipoca e as guloseimas extremamente doces que em nada me apeteciam. Enquanto isso eu esperaria no sofá próximo à cafeteria do cinema. Fiquei por um tempo admirando o nada, até que comecei a me sentir incomodado pela sensação de que alguém me observava. Parecia estar relativamente próximo, à minha esquerda. Virei o rosto e descobri que o admirador era Fred. Meu coração veio à boca e voltou em segundos. Perdi o fôlego quando um frio tomou-me pelo corpo todo e junto dele vieram os flashbacks. Toda a infância que passamos juntos, todas as brincadeiras, os momentos que fomos irmãos, os choros seguidos de abraços recíprocos, os dias de escola, as descobertas, os sustos.
Nos entendíamos mais que nós mesmos. Tínhamos uma ligação muito forte e a qual duvido conhecer alguém que me traga-a de volta. Éramos os amigos mais sinceros e verdadeiros que se podem ser. Me bateu saudade, nostalgia, melancolia, dor. Desejei não estar ali... Mas o destino nunca gostou de mim.
Quando me reintegrei parcialmente por dentro; tentei esboçar um tímido sorriso de pesar, não sei se consegui. Sei somente que não fui correspondido. E era mesmo muita frieza e audácia da minha parte esperar que fosse. Ele continuava ali, parado, estático, sem mover um músculo, como quem brincava de "sério", mas não tinha dúvidas que se eu estava em frangalhos pela sua presença perturbadora, ele estava muito mais. Seu sofrimento era maior e eu sabia disso.
Roberta tirou-me da hipnose chamando-me para entrar e empurrando-me contra o peito o balde de pipocas e o saco das suas malditas guloseimas. Não prestei atenção ao que disse; apenas levantei, como que mecanicamente, com as forças que me restavam e fui assistir ao filme.
Fui, mas fiquei. Fui em corpo, fiquei em alma, em espírito, em pulsação. Eu ainda permanecia lá; sentado naquele sofá, com feição de cachorro sem dono, torturando à mim mesmo pela certeza de que a maior burrada da minha vida fora aquele dia. O dia que ele disse: "Vamos ficar juntos. Eu não quero mais tua amizade, quero teu amor. E eu sei que você também quer!" e eu, com os olhos vendados pelas imposições e cobranças da sociedade egoísta, agradei ao mundo quando me neguei e rejeitei os sentimentos mais sinceros que já tivera em toda a vida. Cego, apenas afastei-o, empurrando-o pelos braços e gritando com repulsa: "Me larga Frederico, você sabe que eu não gosto dessas coisas, eu sou normal, cara! Normal!"

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